quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Muitos sorrisos...

Uma das coisas que me motivou ainda mais a vir pro Quênia foi conhecer o Projeto 50 sorrisos da Julia Nogara Marcon. Em 6 semanas trabalhando no Ngotas Upendo Primary School, a Julia transformou a escola e a vida daquelas crianças: http://50sorrisos.com/
Ontem fomos conhecer a escola, que fica na favela de Mathare, para entregar os presentes de Natal que o projeto 50 sorrisos arrecadou para as mais de 50 crianças que estudam lá atualmente.



As favelas do Quênia não se comparam às brasileiras em relação à estrutura, tudo é muito mais precário, mesmo. Ao chegar em Mathare, você encontra centenas de ambulantes vendendo de tudo, desde roupas e tênis até galinhas.  E muito, mas muito lixo pelo caminho. O chão é todo de terra, quando chove vira uma lama só e não há saneamento básico.



Enquanto chegávamos cada vez mais perto da escola, durante todo o caminho ouvíamos diversos “How are you? How are you? How are you?” e “muzungu, muzungu!” (homem branco em swahili). São as crianças, que sempre que veem muzungus, saem correndo para nos cumprimentar, bater nas nossas mãos e nos receber com um sorriso no rosto.
Assim que chegamos na Ngotas Upendo Primary School, fomos recebidas com um berreiro de felicidade... e foi nesse momento que eu quase não consegui conter as lágrimas. Ver mais de 50 crianças gritando por estarmos ali, muzungus que elas nem sequer conheciam, nos tocou muito. Passamos horas na escola com elas, e pudemos fazer várias brincadeiras, conversar e, claro, entregar os presentes de Natal do projeto 50 sorrisos.



Aos poucos os olhares desconfiados iam se transformando em sorrisos tímidos e abraços. A maioria das crianças são órfãs e perderam seus pais devido ao HIV. Eles ficam na escola das 6h às 18h e recebem um almoço enquanto estão lá. Um dos professores tem apenas 14 anos.
Durante o tempo que ficamos lá, 3 mulheres preparavam o almoço das crianças. Chapati (tipo um pão sírio mais fino, típico daqui), batatas, cenouras e carne. Pra mim, não só como estudante de nutrição, mas como pessoa, foi lindo ver a dedicação delas, apesar de toda a estrutura precária (precária pra nós, que estamos acostumados com tanto luxo), para que as crianças recebessem a refeição do dia. Antes de comer, elas lavam as mãos numa bacia com água e cantam uma música que não saiu da nossa cabeça: “Mom is in the kitchen, cooking chapati, i like chapati, nham nham nham!”.






Enquanto observava as crianças recebendo os pratos de comida, ouvi um “how are you, how are you?” e quando olhei, ali atrás dos buracos da grade da escola, havia mais crianças, moradoras de Mathare. Não resisti e fui lá conversar com elas, tirei fotos através dos pequenos buracos da lona e da grade, e mostrei pra elas. A alegria que eles sentiram ao se verem nas fotos é indescritível!


Depois de entregarmos os presentes à todas as crianças, foi a vez de elas nos presentearam com suas danças. Ver aqueles pequenininhos dançando lindamente para nós e cantando músicas sobre suas histórias (inclusive sobre a perda dos pais pela AIDS) foi de arrepiar.



Conversei com muitas delas, perguntei sobre o que mais gostavam de comer (chapati, claro!) e seus sonhos.
Celestene, de 12 anos, me disse que quer ser capitã de um navio. Perguntei se ela já tinha visto o mar, e ela contou que viu em Mombasa (uma cidade no litoral do Quênia). Quando estávamos nos despedindo de todos, em meio à diversos abraços, apertos de mão e sorrisos, Celestene disse que ia sentir saudades de nós e que queria que eu a levasse comigo para o Brasil... (imaginem minha cara!). Então pedi à ela que continuasse estudante bastante para se tornar uma capitã e ir de navio até o Brasil, e ela concordou com um lindo sorriso no rosto e um abraço apertado!

                                                                                                                                                Celestene.


Não tenho palavras pra descrever o dia de ontem... chegamos em casa mortas de cansaço (depois de pegar alguns matatus, o que por si só já é uma grande aventura), com as roupas sujas e os tênis cheios de lama, mas com um grande misto de sentimentos dentro de nós. Os muitos sorrisos daquelas crianças ficarão pra sempre guardados na minha memória.


4 comentários:

  1. Que coisa mais linda!
    E tenho certeza de que a comida sai muito mais gostosa do que em várias escolas por aqui com mais estrutura. O amor é o maior dos temperos!
    Parabéns pelo belo trabalho. O sorriso de vocês leva esperança para eles!
    Beijos

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  2. Oi Ana, tudo bem? Sou Alumni da @FL e faço parte da Equipe 50 Sorrisos. Queria dizer que fiquei muito feliz ao ler seu depoimento! Obrigada de coração por ir até lá para dar o carinho que a gente de longe infelizmente não consegue! Eles são lindos e merecem todo amor desse mundo!
    Aproveite muito o intercambio e continue dando mto carinho não só aos nossos sorrisos como a todos que cruzarem seu caminho!
    Beijos

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  3. Cada sorriso que se agrega ao nosso projeto não é uma soma, mas uma multiplicação! O projeto 50 Sorrisos tem apenas um objetivo: fazer o bem! Obrigado por partilhar o seu tempo, as suas palavras e o seu amor conosco! beijos, Gabriel - equipe 50 Sorrisos

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  4. É dona Ana!!!
    Coisa linda!!! Bom que os improvisos continuam na ponta da língua, caso contrário teria que trazer várias crianças neh não!?!?
    Bem massa poder acompanhar seus passos por ai!!!

    Só não entendi uma coisa....
    Qual a relação de um Rim desenhado na camiseta "Tens fome de quê?" uahuahau
    zuera só pra descontrair e não ter choro!!

    Bjussssssss

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